A história dos festivais nativistas do Rio Grande do Sul tem início na década de 1970. O primeiro festival a surgir foi a Califórnia da Canção Nativa de Uruguaiana, em 1971. Alguns eventos aconteceram anteriormente, há registros de um festival promovido pela TV Gaúcha em 1969, outro promovido por um CTG em Santa Maria em 1970. Mas o que realmente deu a partida para a grande disseminação da música gaúcha pelo estado foi a Califórnia.
A origem da Califórnia é contada em "Califórnia da Canção Nativa - marco de mudanças na cultura gaúcha", de Colmar Duarte e José Édil de Lima Alves (Ed. Movimento). Resumindo, Colmar Duarte e companheiros decidiram organizar um festival de música do Rio Grande do Sul por não terem sido classificados em um festival de músicas promovido por uma rádio de Uruguaiana. A ideia foi levada ao CTG Sinuelo do Pago, que primeiramente não a aceitou, mas, após Colmar ser eleito patrão, abraçou a causa. E assim surgiu a "Mãe dos Festivais", como diz Jerônimo Jardim.
Depois da Califórnia, outros festivais foram surgindo - a Ciranda de Taquara, em 1972, e a Vindima de Flores da Cunha, no mesmo ano, foram os primeiros "filhos". Com características um pouco diferenciadas, esses festivais valorizavam, além da música gaúcha, a influência da imigração - alemã e italiana, respectivamente. A Ciranda foi bienal nos primeiros anos, deixou de ser realizada por algum tempo, voltou mais tarde e finalmente caiu no esquecimento. A Vindima também não acontece mais.
A década de 1980 viu uma explosão de festivais pelo estado. Notadamente, os mais importantes (no meu entendimento) foram Tertúlia de Santa Maria (1980), Coxilha de Cruz Alta (1981), Seara de Carazinho (1981) e Musicanto de Santa Rosa (1983). Inúmeros festivais se seguiram: Gauderiada, Reponte, Ponche Verde, Reculuta, Moenda, Ronco do Bugio, Tafona, ... Chegamos a ter mais de 60 eventos num ano. São mais de 200 títulos no total. Alguns não passaram de uma ou duas edições.
Tivemos um festival de intérpretes em Caçapava do Sul que premiava o vencedor com um automóvel zero-quilômetro. Houve também uma mostra em Porto Alegre de músicas participantes de outros festivais: Tchê - o Festival dos Festivais. Com ideia semelhante aconteceu em Tramandaí o Eco dos Festivais, em que participavam somente as vencedoras de outros eventos. A Mostra Farroupilha de Nativismo, acontecida no ano do Sesquicentenário da Revolução Farroupilha, também ajudou a incentivar os festivais.
A música gaúcha se espraiou e os festivais também. Santa Catarina começou a organizar a Sapecada da Canção em Lages e outros em várias cidades. O Paraná teve o Cante-Terra em Campo Mourão e mais alguns.
Hoje acontecem em torno de 30 ao ano no Rio Grande do Sul. Todo ano surgem novos, antigos desaparecem e alguns parados voltam a acontecer. A dinâmica depende muito da política, apoio de prefeituras e leis de incentivo, por isso há uma grande variação. Mas é um mercado que movimenta muita gente e muitos recursos, e eu gostaria de ver estudos a respeito. Tento fazer uma parte, registrando aqui o que está ao meu alcance.